quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Bollywood em tela grande: Fanaa!

C: Amigos, romanos e conterrâneos! Depois de tanto tempo, só poderíamos voltar aqui para falar de algo especial. E este 'algo' foi esperado por nós durante muitos anos: finalmente um filme de Bollywood estrearia nos cinemas brasileiros. A distribuidora Bollywood Filmes foi à Índia, fuxicou aqui, fuxicou ali, bateu altos papos com a Yash Raj e trouxe Fanaa para ser exibido nas salas de cinema. Percebem a enormidade disto? Bollywood numa sala de cinema sem ser numa mostra ou em um festival!

Nós e nossos amigos ficamos todos em polvorosa com a notícia. Combinamos grupos que assistiriam ao filme em várias cidades do Brasil, fizemos contagem regressiva, relembramos momentos queridos do filme. É claro que se levantou a questão 'Por que logo Fanaa?', mas partimos do que já estava feito e apreciamos a vinda de Mr. Aamir Khan e Dona Kajoleta Devgan para as telonas. Isa, eu e nossa caravana tentamos ver o filme no New York City Center, na Barra da Tijuca, mas a experiência foi ingrata. Horários desencontrados, sessões inexistentes, atendentes desinformados, muito cansaço e dor de cabeça. Isa foi lanchar, eu fui ver Rock Of Ages (Tom Cruise, seu lindo!) e Fanaa sumiu de nossas vidas até ganharmos ingressos para ver o filme numa promoção feita na página da Bollywood Filmes no Facebook. E nos deslocamos lindas, descabeladas e sob chuva para o Recreio Shopping.

#FANAÁTICAS

I: E chegamos, quase tendo que pagar nossos tão merecidos ingressos no Recreio Shopping, mas conseguimos. Fomos direto para a sala de cinema e a emoção começou.

Devo observar que, além de nós duas, fãs desesperadas, havia um senhor e uma senhora no cinema. Isso mesmo, só quatro pessoas. E, pelo que ouvimos falar, o panorama foi basicamente o mesmo na maior parte das salas do país, durante as sessões. Infelizmente o filme não teve grande divulgação além da internet por aqui: cinemas sem cartazes, painéis com horários trocados. Mas o cinema lindo e loiro a que fomos pela segunda vez tinha um cartaz! Tanta emoção, vocês mal podem acreditar, Kajol e Aamir para todos verem.

Um pouco sobre o filme. Fanaa conta a história de Zooni (nossa linda Kajol), uma moça cega que, decidindo ir para New Delhi por uns tempos e sair da aba de seus protetores pais (maravilhosos Rishi Kapoor e Kirron Kher), conhece Rehan (Aamir Khan coraçãozinho), por quem se apaixona e decide viver uma história de amor, com direito a horas de recitais de poesia e muita canastrice.

Sabe, a lembrança que eu tinha de Fanaa quando vi pela primeira vez era de ter me apaixonado a metade inicial do filme e desprezado a outra parte. Pensando agora, penso que foi tudo um misto de elementos: diálogos, cores, músicas. Mas isso foi há muito tempo. Ali, no cinema, muita coisa na minha opinião mudou.

"Isa, tá todo o mundo da fila olhando...
AH, VOLTOU! VAI, TIRA!"

O filme segue pela linha romântica durante mais ou menos uma hora. Para nossa infelicidade, foi cortada a maior parte das músicas: Des Rangila, Dekho Na, Chanda Chamke... Creio que, ao editar o filme, resolveram cortar qualquer item musical que pudesse se tornar irrelevante à progressão do filme; mesmo que tenha ficado estranho em algumas cenas, como a apresentação musical no teatro - que seria Des Rangila - que acabou se tornando somente um discurso e avançando para a cena seguinte.

C: Já conhecíamos o filme e sabíamos o que vinha pela frente, já que a distribuidora avisou que a maior parte das músicas seria cortada. Mas nada nos preparou para a sensação de esperar pelas canções e nos depararmos com um corte abrupto a cada vez. Pensávamos que a continuidade seria mais prejudicada do que realmente foi, isto devemos confessar. Mas isto é Bollywood. É como se retirassem o coração de alguém. *drama*


Como nos sentimos quando a distribuidora cortou as músicas:



I: Então ocorre a maior reviravolta possível no roteiro: após a operação para recuperação de visão de Zooni, enquanto Rehan buscaria seus pais na estação de trem para que todos se conhecessem e pudessem planejar um futuro casamento, ocorre um ataque terrorista no meio da cidade, resultando em mortes e destruição. Por isso, antes que Zooni pudesse se acostumar ao fato de voltar a enxergar e rever os pais (sem nenhum período de recuperação, é claro, a visão voltou quase por milagre), descobre que possivelmente uma das vítimas da explosão foi seu amado Rehan, cujos pertences foram encontrados entre os destroços.



C: Daqui em diante, teremos de revelar muito da história do filme, pois é difícil falar de Fanaa sem fazer isto. Alerta de spoilers.

Sempre preferi a segunda metade do filme. Pensei que minha opinião mudaria assistindo-o em tela grande, mas o que ocorreu foi encontrar todas as razões pelas quais acho a primeira parte uma bela chatice. A principal é a eterna troca de diálogos poéticos entre os protagonistas. No começo é engraçadinho porque ajuda a estabelecer a imagem de sedutor canastrão do Rehan, mas aí vem de novo, de novo, outra vez...nunca termina. Zooni também não é lá uma personagem muito interessante na primeira metade, com sua intensa devoção às lições ensinadas pelos pais. Não digo que seja um problema ser assim, já que eles a protegeram mais que o normal devido à sua cegueira, mas também não é uma situação que traga as melhores falas da personagem. Entretanto, há algo que se insinua ligeiramente nesta parte do filme e se desenvolve no resto: sua maturidade e seu senso de responsabilidade. Zooni não se coloca na posição de vítima de um sedutor romântico. Ela sustenta suas decisões quando vai atrás do que deseja.

É na virada que o filme fica bom. Finalmente conseguimos conhecer a difícil personalidade de Rehan, que, longe de ser um conquistador inveterado, é na verdade um homem perturbado por seu senso de dever com sua causa por eleições na Caxemira. Ou melhor, perturbado por um dia ter deixado aquele senso fraquejar diante do amor sentido por Zooni. Ele claramente não consegue (ou não quer?) entender a impossibilidade de conjugar seus atos terroristas à uma vida familiar tranquila com Zooni e o pequeno Rehan. Rehan parecia ter chegado àquele horrível momento no qual você não sabe como entrou em algo, mas implora ao universo para que algo aconteça e lhe tire dali. No passado, queria fugir do amor. No presente, do terrorismo. Sempre correndo, sempre escolhendo. Me surpreendi com os olhos muito abertos, fascinada por aquele personagem tão perdido.

Não me lembrava da Tabu no filme, talvez porque não fosse feminista na época em que o conheci. Mesmo assim, qual era o meu problema? Sua personagem é a Malini Tyagi, oficial das Forças Armadas muito segura de sua própria competência que tem de lidar diariamente com um colega de profissão altamente machista. Malini tenta pensar como um terrorista para seguir os passos de Rehan, e suas (corretas) conclusões não são muito levadas a sério por seu colega. O mais legal é que ela pouco se importa, porque ao contrário daquele estúpido, ela está ali para proteger o país. Não há uma tentativa do roteiro de masculinizá-la: Malini é uma mãe presente até onde é possível e profissional altamente competente. Ela não faz discursos sobre sua eficiência, apenas age e deixa que os resultados falem por si. Ficamos animadas com a personagem durante a sessão!

E, no cinema...

C: - Caramba, olha essa mulher!
I: - Girl power!
C e I: - Girl power, girl power! *braços estendidos*

Zooni também melhora depois do intervalo, mesmo que não se torne tão instigante quanto Rehan. Kajol fez um trabalho muito bonito ao mostrar a confusão da personagem em relação aos seus sentimentos pelo soldado que ela não imaginava ser Rehan. Ela consegue se mover (fisicamente) com mais liberdade após a recuperação da visão, porém se tornou uma pessoa mais fechada emocionalmente após a ''morte'' do homem amado. Kajol conseguiu transmitir esta mudança erm relação à abertura de Zooni para a vida sem fazer com que parecesse outra pessoa. Acredito que uma atriz menos talentosa não teria dado tanta consistência à personagem. Aliás, foi seu filme de retorno após um hiato de três anos. De Fanaa em diante notei uma Kajol mais madura enquanto atriz, parecendo ter maior controle sobre suas expressões corporais, sem perder sua capacidade de encantar.

I: Bem, no final das contas, Fanaa chega a ser um bom filme, emocionante, quis chorar ao ouvir os créditos finais ensurdecedores (é, o cinema estava com o som extremamente alto). Porém ainda é questionável a escolha do filme para nós. Não é um filme que chegaria a nos atingir, como seria o caso se o filme escolhido fosse 3 Idiots. Não é um filme com uma propaganda estimulante. Não houve divulgação suficiente. Esses pequenos problemas de sempre. Mas, para uma primeira vez, foi maravilhoso podermos ter o cinema indiano em telão! Esperamos que essa experiência possa ser repetida - e com títulos melhores e mais promissores. Depois de todo esse tempo, tentamos compartilhar essa experiência com vocês.

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