I: A tarefa que temos hoje, aqui no blog, não é nada fácil. Quer dizer, não que  seja fácil falar sobre filmes normalmente, pelo menos eu considero dificílimo,  mas creio que a dificuldade deste post será um pouco maior. Falaremos sobre o  filme Devdas, que provavelmente muitos de vocês já conhecem, ou já viram, ou já  ouviram falar.
Eu devo dizer que já o assisti pelo menos umas cinco vezes, e  cada vez mais fica difícil defini-lo. Creio que porque uma hora a história toma  uma complexidade estranha para mim, na outra fica extremamente leve e agradável,  e na outra fica fútil, vazia a mensagem do longa.
C: Devdas foi lançado em 2002 e é baseado na história criada em 1917 por Sharat  Chandra Chattopadhyay. O filme foi  dirigido por Sanjay Leela Bhansali e conta a  história do amor entre 

Devdas (Shahrukh Khan) e Paro (Aishwarya Rai),  que eram  amigos na infância e foram separados quando, cansado de sua indisciplina, o pai  do nosso Dev o manda  estudar em Londres. Paro fica super pra morrer muito triste e, segundo uma linda tradição que não sei se  existe ou se é do  filme, mantém acesa uma vela para que seu amor volte para casa. Sete anos depois  Dev volta ao lar, para a alegria de sua família e também a de seus vizinhos, a  família da nossa Paro. Antes mesmo de ir ver sua  mãe, que estava ansiosa por  seu retorno, Devdas já vai à casa de Paro. Assim começam as intrigas do  filme,  principalmente manifestadas pelos comentários da cunhada de Dev para a  mãe deste. O inconveniente de uma união  com a família de Paro, socialmente  inferior à de Devdas, é sempre ressaltado pelo cunhada desagradável.

O amor entre Devdas e Paro vai se desenvolvendo à vista de todos sem que ninguém  tome uma atitude até que a  mãe dela, Sumitra (Kirron Kher), fala sobre o  assunto numa reunião na casa de Devdas. Sumitra é humilhada na frente  de todos  e promete que casará sua filha com uma família mais rica do que aquela. É a  partir daí que os poucos  incentivos e muitos obstáculos ao amor dos dois ficam  claros. Devdas, um homem fraco, não aguenta a pressão de ter  que enfrentar seu  pai e sai de casa. Na casa de seu amigo Chunnibabu (Jackie Shroff) escreve para  Paro dizendo  que o amor deles nunca existiu realmente e que não poderia  enfrentar o pai. Paro super fica com raiva sente o peso da humilhação  e aceita se casar com o homem que sua mãe arranjou.

Enquanto isso Devdas  quer esquecer  de tudo e vai para um bordel com o nosso querido Chunibabbu, onde  é apresentado à prostituta Chandramukhi  (Madhuri Dixit). Devdas não suporta o  clima do bordel, arrepende-se de ter abandonado Paro e decide voltar para  ela.  Chandramukhi sente que aquele homem era diferente dos outros e acaba por  ele se apaixonando.
Devdas não consegue fazer Paro desistir do orgulho seguir com seu casamento e  não aguenta (é, de novo) o peso  da separação. Encontra na bebida a sua  companheira e aí começa uma história de muuuito, muuuito sofrimento.

I: Esta versão de Devdas é encantadora por vários motivos, sendo um dos principais seus cenários deslumbrantes, figurinos deslumbrantes, artistas deslumbrantes, trilha sonora deslumbrante. Entende? O filme foi feito para o sucesso. O cenógrafo não teve medo de exagerar na opulência de cada detalhe, cada detalhe mesmo. E o filme é rico neles, um deleite para os olhos.
E é justamente isso que levanta a minha maior indignação com o filme. Por vezes, você esquece os pequenos rumos da história e se perde no cenário. E, se começa a observar isso, pensa: é assim mesmo que é para ser? Não sei se consegui me expressar de modo claro. O que eu quis dizer é, quando você vê o filme com olhos mais atentos ao roteiro, às falas e não só principalmente ao cenário, começa a observar algumas pequenas falhas (perdão, Devdas' lovers...)...
Por exemplo, eu nunca mesmo diria que a família da Paro é de um nível inferior à família do Devdas. Jamais. Ambas as mansões são deslumbrantes, ricas, todos se vestem de maneira excepcional e tudo o mais.
Outra coisa que me incomodou a partir da 3ª vez que eu vi o filme é uma certa falta de coerência sentimental nos personagens. Afinal, por que Chandramukhi se apaixonou por Devdas? Por ter sido rejeitada cruelmente por ele? Pela sua falta de gentileza pungente? Ou porque o personagem é interpretado pelo belíssimo Shahrukh? Fica no ar a dúvida.

E algo que pode se tornar exaustivo ao longo do filme, só para terminar esta  pequena lista de 

críticas, são as falas dotadas e interpretações poéticas e  metafóricas... O que pode ser lindo para uma pessoa de coração rosa repleto de  poesia, mas para quem não tem muito saco para metáforas (como eu), às vezes se  torna cansativo. Salvo cenas que se tornam lindas exclusivamente por causa  destas poetices, como o reencontro de Devdas e Paro.

Além do mais, alguns diálogos do filme são excelentes. As cenas de discussão  acaloradas, se observadas com cuidado, são muito bem elaboradas, e a atuação,  principalmente de Madhuri, está maravilhosa.
Creio que Devdas se torna inesquecível principalmente por causa de sua beleza,  sendo tanto um banquete aos olhos quanto aos ouvidos, porém sem podermos  desprezar também detalhes da história, que se tornam encantadores tanto quanto  angustiantes. Por fim, devo dizer que é um filme que recomendo que assistam, é  um clássico e é lindo que dói.
C: Tudo o que a Isa pontuou são os motivos para eu ter odiado o filme na primeira  vez em que assisti e odiado com todas  as forças do meu ser na segunda. A  terceira não conta muito porque, 

né, vi o filme TRÊS vezes e ainda por cima  foi no cinema e com a Isa. Até American Pie ficaria especial desse jeito, e  assim o foi com Devdas. De todo modo,  sempre há algo que gostamos e no meu  caso  não tenho nem dúvidas de quem foram as músicas. É a minha trilha  favorita  e o será para todo o sempre! Foi composta por Ismail Darbar e todos os sons mais  mágicos do mundo estão  presentes nela, que em grande parte foi cantada por dois  dos cantores que mais amo: Udit Narayan e Shreya  Ghoshal. Gostaria de falar  mais de uma ou outra canção, porém todas são tão maravilhosas que ficaria mal de  não  comentar alguma. O mesmo posso dizer de todos os clipes, que em sua maioria  logo viraram clássicos do cinema  indiano (não percam Maar Dala e Dola Re Dola).  Sinto uma certa vergonha por num mar de clipes tão perfeitos talvez  meu  favorito ser... Chalak Chalak.

Mesmo normalmente sendo partidária do princípio de que só deve assistir o que se  quer, a palavra "obrigatório" não  basta para expressar a importância de Devdas  para o cinema indiano. Os que gostam e os que não gostam da obra  provavelmente  ainda passarão um bom tempo a discuti-la e acredito que isto seja ótimo, mesmo  tendo eu por um bom tempo brigado discutido incessantemente o filme com  os fãs. É assim que deve ser cinema: movedor de emoções,fazer com que mesmo após  o fim do filme ainda o estejamos pensando. E com sua linda, elegante e confusa  Chandramukhi (Madhuri, te amamos), seu autodestrutivo Devdas e sua orgulhosa e  (às vezes) doce Paro, é claro que Devdas move emoções por onde passa.
I: E por isso escolhemos Devdas hoje, por isso o post ficou nesse tamanho "de  bolso" e por isso pode parecer confuso para quem o ler, com tantas opiniões  contrárias. E para você que se sentir confuso, só tenho um conselho a dar:  assista ao filme e então nos entenderá.